quinta-feira, 21 de maio de 2009

foto: Giovanna (misato)

Hoje meditando em alguns versículos da Bíblia...

deparei que ao longo de minha vida, alguns dias, invadiu em mim um estranho sentimento de exaustão interior.
Nestes momentos, a minha consciência é tomada por uma incompleta incapacidade em corresponder às expectativas das pessoas que estão ao meu redor em relação a mim.

Sinto-me sem condições de atender às necessidades das pessoas, até mesmo daqueles que esperam que eu possa falar ou trazer algo positivo; às cobranças dos amigos, (essa semana esqueci o niver de um deles e me ligou chateado porque a anos eu sempre me lembrei) – sem falar, claro, das pressões geradas em família , cobranças de como você tem que fazer, parece que temos que ser padronizadas segundo suas convicções, fazerem o que eles acham que tem que ser feito, não importa o você e sim Eles
Então, sou tomada pelo desânimo em relação aos desafios que me cercam e pelo desejo de não ter tantos compromissos diante de outros.

Essa sempre foi a minha preocupação, sempre dei satisfação dos meus atos, das minhas atitudes e agora parece que eles tomaram posse e determinam o que eu posso e devo fazer....

Quando esta exaustão interior me assalta, minha vontade é de jogar tudo para cima. Fico sonhando com a possibilidade de abrir mão de todas as responsabilidades, procurar um chalé numa região bem distante e viver ali por algum tempo. Minha única vontade é a de voltar-me para o cuidado do meu próprio coração, lidando com as minhas próprias demandas interiores – coisas singelas, como o silêncio, a solicitude, a leitura e a oração.

Sei que muitos pensam que um cristão não deveria sentir-se assim, que uma pessoa que tem Deus como prioridade na vida não poderia falar assim. No entanto, as vezes tenho que decepcionar as pessoas que se julgam mais espirituais, que ficam de plantão lembrando, dizendo, censurando suas (minhas) atitudes...
Somos humanos e enfrentamos muitos desafios.... sim... mesmo meus dias de exaustão... há limites....

Diante desta tal exaustão interior e da impossibilidade de jogar tudo para cima, acabo caminhando alguns dias em reflexão e oração, os quais me levam a uma conclusão.
O problema, antes de residir nas expectativas daqueles que me cercam ou nas pressões delas decorrentes, são, geralmente, fruto ou de meu descuido em viver, dia após dia, dependendo da minha própria potencialidade, ou de um equívoco – o de colocar minha confiança de realização em projetos e relacionamentos que jamais poderão me oferecer o que somente Deus tem para me dar.

Li um livro sobre um monge francês - Bernardo de Claraval, que viveu entre os séculos XI e XII, ele diz: que tudo o que somos e fazemos deve ser fruto não de nossas próprias reservas, mas do transbordar da água viva que Jesus derrama em nossas vidas. Podemos, assim, dedicar-nos a algo sem nos exaurirmos; dar-nos sem nos esgotarmos; cuidarmos de outros sem cometer o equívoco de não cuidarmos de nós mesmos. Se, contudo, abandonamos esta relação constante com a pessoa de Cristo, fechamo-nos para a fonte que abastece o nosso reservatório interior e deixamos de receber a água viva que emana do Pai. No entanto, a falta de conexão com a fonte primária da água viva nos conduzirá, mais cedo ou mais tarde, à sequidão.

Essa dimensão de vazio interior foi comparada por Jesus, quando há um diálogo com a mulher de Samaria, com a sensação humana da sede. Ela não sabia, mas tinha diante de seus olhos aquele capaz de saciar a sede existencial que existe dentro dos corações de homens e mulheres. Sede de sentido para vida, sede de sentir-se valorizado (a) ou amado (a) por alguém. Um de nossos grandes erros, humanos que somos, é o de tentar lidar com o sentimento de vazio interior que insiste em nos acompanhar ao longo da vida através de conquistas. Queremos acumular coisas, ser amados pelos outros, atingir grandes realizações; enfim, queremos ser felizes com a vida.

O profeta Jeremias registrou a contenda de Deus contra seu povo Israel apontando os mesmos equívocos nos quais hoje ainda incorremos: “O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram a mim, a fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água” (Jeremias 2.3).

Logo, quando colocamos nossa esperança ou buscamos a realização em qualquer outra fonte que não seja o próprio Pai, corremos o risco de buscar a água onde ela simplesmente não existe. Conhecedor do coração humano, Jesus nos convida, de forma simples e prática, a uma solução: “Quem tem sede, venha a mim e beba”. Ele próprio se apresenta como a única fonte capaz de saciar nossa sede existencial. Neste caso, estamos falando da importância de estarmos constantemente na presença do Senhor, bebendo da água viva que somente Cristo pode nos oferecer. Somente assim, seremos reservatórios que, repletos de água, transbordam a ponto de irrigar a vida daqueles que nos cercam.

Revendo alguns momentos que estão acontecendo comigo nos últimos dias , esse momento de exaustão interior que me assalta é decorrente do meu descuido de viver a partir de mim mesmo, ou do equívoco de buscar nos projetos e nos relacionamentos o que somente em Jesus posso ter.

Por isso, quando tomado pelo sentimento de cansaço, me aquieto na sua presença e volto a escutar o convite amoroso e paciente para beber da água que somente Ele pode me oferecer.
É esta água viva que nos capacita a renovar nossas forças físicas e emocionais, bem como a nos libertar das buscas infindáveis que drenam nossas energias e nos fazem reféns de nossos próprios anseios. Somente assim, como diz a Escritura, fluirão rios de nosso interior. Rios da mais pura água – a água da vida.
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